Como diz o psicanalista Jacques Lacan, na solidão, sente-se a lacuna, o vazio que os outros tentam preencher desesperadamente com o Eu. Este Eu, criado no mimetismo da infância, é uma "instância de desconhecimento, de ilusão, de alienação, sede do narcisismo. É o momento do Estádio do Espelho". Um Eu criado pelo nosso Imaginário, "juntamente com fenómenos como o amor, o ódio, a agressividade" (em Jacques Lacan - Wikipedia).
Ainda de acordo com Jacques Lacan, somos seres em angústia pela nossa ligação demasiado intensa, mimética com a mãe enquanto crianças. Somos, na verdade, o animal que passa mais tempo nesse estado de osmose depois de nascer. Por isso, mais tarde o apaixonado, numa regressão sublime, sente-se como uma criança que procura desesperadamente o olhar do ser amado. Sente-se desamparado procurando sempre o outro, o amor, a todo o momento. Num impulso biológico muito forte.
Desta forma, a solidão faz-nos sentir autênticamente a condição humana. Essa estranheza que, se vivida directamente e com aceitação, nos abre as portas da percepção de um novo mundo. Essa consciência de estar aqui como que abandonados, como hóspedes transitórios da Terra como dizia Heidegger, faz parte da nossa condição básica de humano que tentamos evitar no nosso quotidiano normalizado.
Essa consciência pode ser a fonte de uma vida mais profunda e intensa. A solidão assumida, muitas vezes rodeada de muitas solidariedades subterrâneas, pode-nos abrir para o mundo de uma forma fantástica. Podemos aceder a outras percepções que, enquanto mergulhados na euforia do social, tendemos a esquecer. O hinduísmo e o budismo (e os nossos místicos ocidentais como San Juan de la Cruz, Jesus, etc...) descrevem de forma admirável esse caminho pessoal de meditação.
Como diz Octávio Paz, pode-se provar a solidão sem ficar azedo.
"probar la soledad sin que el vinagre
haga torcer mi boca, ni repita
mis muecas el espejo, ni el silencio
se erice con los dientes que rechinan"
(Vida Sencilla)
4 comentários:
Já tinha lido isto no teu blog no Netlog. Muito bonitos os versos de Octávio Pais.
(significativos também) E não poderia deixar de concordar com ele e com a tua reflexão sobre eles.
Beijinhos,
LP
Extractos duma entrevista a Edgar Morin
Você tem a sensação de que vivemos uma catástrofe nova ou já vimos isto antes?
O planeta Terra conheceu no passado catástrofes naturais, como o fim da época primária, que significou a destruição de 95% das espécies vivas… A novidade é que hoje está a caminho uma catástrofe que é resultante do desenvolvimento humano. Para mim, o aquecimento climático não é o mais importante, ainda que o seja; é que estamos em um processo combinado de destruição do planeta que nos leva a uma catástrofe geral ou a várias catástrofes combinadas. O desastre. Não se pode continuar muito tempo por este caminho.
Como mudar?
É um problema difícil. Não podemos mudá-lo com uma decisão; devemos pensar como se processaram as grandes mudanças do passado. Toda grande mudança tem um peso e uma forma que em seu início é muito humilde; pense em Jesus Cristo, em Maomé… Um desvio cria uma tendência e esta tendência pode mudar o caminho… Creio que as denúncias contra a mundialização do capitalismo são boas, mas não basta denunciar, é preciso anunciar.
(…)
“Sou otimista e pessimista, um pessiotimista, ou vice-versa. Quando estava na Resistência houve um momento de grandeza. Havia esperança. A ideia do Não da Resistência era também um Sim à liberdade, a uma esperança de liberdade. Não foi a liberdade que pensávamos, mas foi uma certa liberdade”.
http://209.85.229.132/search?q=cache:kTWhW2wBD2IJ:www.ecodebate.com.br/2009/11/10/crise-ambiental-ha-possibilidades-nao-probabilidades-de-esperanca-entrevista-com-edgar-morin/+edgar+morin+%2B+e-mail&cd=2&hl=pt-PT&ct=clnk
www.eternamente-poeta.blogspot.com
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Nuno Ribeiro
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