"Trata-se em o Visível e o Invisível (Le Visible et l'Invisible de Merleau-Ponty) de 'superar' a fenomenologia, em particular a da percepção. [...] A dificuldade vinha da ligação que a noção de experiência estabelece entre os sentidos e a consciência. [24] [...]
A visibilidade secreta, a visão de dentro que atapeta a visão de fora não possui [em Merleau-Ponty] um estatuto claro. [33]
Talvez estas dificuldades de Merleau-Ponty se liguem ao facto de ele não distinguir o olhar da visão. [47]
Para ver, é preciso olhar; mas pode-se olhar sem ver. Pode-se até ver mais, olhando; não só receber estímulos , descodificá-los (ver), mas fazer intervir o corpo na paisagem. Entre o ver passar barcos e olhar os barcos que passam, há a diferença entre a distância (entre o sujeito e os barcos) e uma subtil aproximação (de qualquer coisa que evm da passagem dos barcos para aquele que olha, e que determina a sua atitude)." [48]
"Olhar - não ver, unicamente - é dizer as coisas - não ainda nomeá-las - construindo um continuum articulado na visão maciça; é fazer irromper movimentos imperceptíveis entre as coisas, juntá-las em unidades quase discretas, amontoados, aglomerados, tufos, abrindo na paisagem brechas imediatamente colmatadas pelas pequenas percepções que compõem as articulações insensíveis" [52].
José Gil, A imagem-nua e as pequenas percepções. Estética e fenomenologia, Lisboa, Relógio de Água, 1996.
O olhar puro, olhar apenas.
Um olhar que esquece (coloca entre parêntesis) o que está significando, a intenção, o sentido.
Fica-se pelo fluxo, pela folha cheia de letrinhas sem qualquer significação linguística. O ver, pelo contrário, já padece desse vício mental. Dessa actividade fervilhante e muitas vezes entrópica. Focaliza, delimita, organiza, pré-condiciona o acto, a percepção.
domingo, março 16, 2008
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1 comentário:
Interessante.
Tenho uma obra de José Gil na lista de obras a ler (a lista está a ficar esmagadora, começo a desconfiar que não vou ter tempo para ler todos os livros que gostaria de ler...)
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