quarta-feira, fevereiro 24, 2010

As coisas. Eu devia vê-las, apenas vê-las

As coisas. Eu devia vê-las, apenas vê-las. E nesse momento mágico, a intensidade do olhar volta-se para dentro. Dobra-se abrindo um espaço enorme. Sente-se.

Vê-las até não poder mais. Vê-las até que algo se desloca. E uma paz enorme me invade.

Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.

Uma ciência do ver que não é nenhuma. É uma atenção em si. Um saber feito de saberes antigos.

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"Vive, dizes, no presente.

Vive só no presente.

Mas eu não quero o presente, quero a realidade. Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede. O que é o presente? É uma cousa relativa ao passado e ao futuro. É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem. Eu quero só a realidade, as cousas sem presente. Não quero incluir o tempo no meu esquema.

Não quero pensar nas cousas como presentes, quero pensar nelas como cousas.

Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes. Eu nem por reais as devia tratar. Eu não as devia tratar por nada. Eu devia vê-las, apenas vê-las. Vê-las até não poder pensar nelas, vê-las sem tempo, nem espaço, ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.

É esta a ciência de ver, que não é nenhuma."

Alberto Caeiro

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